BRASIL: A Pandemia do Novo Coronavírus – Covid-19, parou o mundo. Muitos não puderam mais sair para trabalhar, estudar ou se divertir. A regra do Isolamento Social prevaleceu em nome da saúde pessoal e da família. Mas o que pode ter sido um problema, para muitos tem transformado as relações dentro das famílias. Diálogo, atenção e afeto tem sido percebido em muitos lares. Acompanhe abaixo alguns relatos coletados pelo Jornal O Conilon, e que sabe, você não se encaixa em alguns deles? Ainda dá tempo!
Acostumado a acordar às 6 horas para ir trabalhar, o analista de sistema Rodrigo Maxwel, 38 anos, viu a vida mudar com a pandemia. Pai de quatro filhos e padrasto de uma jovem, ele percebeu a importância do tempo na criação deles.
“A verdade é que as urgências mudaram e com planejamento a gente consegue fazer tudo. Além de gerenciar a minha vida profissional passei a dar mais atenção aos meus filhos pequenos que estão sem frequentar a escola. Tomo café da manhã com eles, converso, preparo o leite, para então começar a trabalhar”, conta. Rodrigo não é o único.
A relação que era próxima se tornou ainda mais. E isso não acontece só com os pais do Espírito Santo. Um estudo feito em maio e divulgado pela ONG Canadian Men’s Health Foundation mostra que o chamado lockdown (confinamento) fez 60% dos pais se reaproximarem dos filhos. A pesquisa questionou 1.019 pais canadenses sobre o impacto do isolamento social na família.
O estudo mostra ainda que 40% dos entrevistados consideraram que a covid-19 teve um impacto positivo no papel dos pais, 52% estão mais conscientes do seu papel e 60% se sentiram mais próximos de seus filhos. 64% disseram que estão fazendo mais refeições com seus filhos. Sim, almoços e jantares com toda a família à mesa. O estudo revela ainda que quase dois terços dos pais ficaram mais companheiros dos filhos durante o confinamento. E o mais interessante: quase metade planeja continuar fazendo isso quando as restrições acabarem.
A família de Rodrigo – ele, a esposa, a mãe e os filhos, Rodrigo e Isla Vitória, de 6 e 4 anos respectivamente – aproveitou a quarentena e se mudou para o sítio no município de Serra. Vivem esses dias em meio à natureza, banho em lagoa e com os bichos. “Foi uma vivência muito enriquecedora porque o meu filho menor não sabia o que era uma galinha cacarejar. Eles deixaram um pouco a TV e os games de lado para aproveitarem outras coisas. Me sinto muito mais próximo deles”, conta.
Os filhos mais velhos – Caio e Camila, 17 e 15 anos – moram há dois anos em Portugal com a mãe. A tecnologia também tem ajudado na aproximação deles. “Vou uma vez por ano visitá-los e passo um mês com eles. Estava programado para viajar agora, mas, por conta da pandemia, não foi possível. A tecnologia ajuda muito a matar a saudade e faz a gente estar junto mesmo em locais diferentes”, conta ele que vai celebrar o Dia dos Pais com um churrasco em família.
Amizade e segurança
A psicóloga Giseli Cristina Xavier de Melo explica a importância dos pais se aproximarem ainda mais de seus filhos neste momento. “É fundamental para eles ter a sensação de segurança e de amizade. Ninguém foi preparado para o isolamento social, uma coisa é se programar para uma colônia de férias, outra é simplesmente acontecer o confinamento. A aproximação familiar é válida para restabelecer os laços que, por algumas situações, foram perdidos”.
Ela conta que grande parte das famílias capixabas foram “beneficiadas” em razão do isolamento, trazendo de volta gestos positivos que antes não eram mais demonstrados ou vivenciados entre pessoas próximas. “O isolamento social de fato fez com que as famílias se reinventassem e criassem uma nova roupagem diante dessa situação, o que resultou em benefícios consideráveis para todos. As tarefas passaram a ser feitas em equipe e laços foram reavidos e fortificados novamente”, diz Giseli.
Para ela, o ideal é alimentar essa nova roupagem e gestos positivos que nasceram diante do isolamento social. “Com o retorno da rotina de trabalho e afazeres do cotidiano, o que ficará na memória serão os melhores momentos vivenciado dentro do lar, como as brincadeiras, os valores recuperados, as boas risadas, a valorização de quem está perto, a superação da dor e o resgate do amor, do carinho e do respeito”, ressalta a psicóloga.
Guarda compartilhada
Há três anos o administrador Márcio José Ferreira, 33 anos, tem a guarda compartilhada do filho Miguel, 8. O pequeno sempre fica dois dias da semana, além de finais de semanas alternados, na companhia do pai. Porém, com a pandemia, tudo também mudou. Agora, ele fica uma semana na casa de cada um. “Eu e a mãe dele sempre tivemos uma boa relação quando o assunto é o nosso filho. E ficando a semana toda com ele posso aproveitar ainda mais sua companhia”, conta.
Mas isso não significa que seja fácil. Com as aulas acontecendo remotamente, Márcio acabou criando uma sala de estudo em seu próprio escritório. “A escola teve que mudar o método de ensino. No começo não tinha aula on-line, então as tarefas eram enviadas por WhatsApp. Eu imprimia e fazia com ele. Depois começaram as aulas virtuais e montei um espaço de estudo para ele na minha sala de trabalho, fora de casa”, conta. O pai providenciou notebook, caixa de som e espaço para colocar os livros e cadernos. “Ficamos só nós dois. Trabalho escutando o que a professora fala. Toda dúvida paro o que estou fazendo para ajudá-lo”.
Na parte da tarde Miguel aproveita o tempo para brincar, assistir desenho ou jogar no celular, ainda no escritório do pai. Só à noite é que a dupla vai para a casa. “Nesse momento faço algo para ele comer e coloco para dormir cedo. A rotina continua”, diz Márcio.
Morador de Vila Velha, ele conta que sempre foi próximo do filho. Participa das reuniões escolares, conversa com os professores, leva ao médico. “Mas durante esse isolamento ficamos ainda mais próximos. E também acabei ficando mais próximo dos meus pais”.
Pai de adolescente
O marceneiro Rondineli Martins, 42 anos, é divorciado e mora com o filho Pedro Henrique, de 19, em Guaranhuns, Vila Velha, há dois anos. Antes da pandemia ele trabalhava como motorista de aplicativo, saindo cedo e chegando tarde em casa. “A gente quase não conversava”, conta.
Com o confinamento ele preferiu parar com o trabalho de motorista e se dedicar à marcenaria, profissão que aprendeu com o avô. E, como a oficina é no quintal de casa, as criações com madeira aproximaram pai e filho. “Ele passou a me ajudar com a marcenaria, é algo que ele tem aprendido. Fazemos tábuas para mesa posta, porta-guardanapo e objetos de decoração”, conta.
Rondineli tem as preocupações como o pai de qualquer adolescente. Por isso, o diálogo dentro de casa é tão importante. “Como o recomendado é ninguém sair, a nossa relação ficou ainda mais forte. A pandemia fez a gente ter ainda mais diálogo e conversamos sobre tudo”. Os dois adoram caminhar na praia, jogar vídeo game e pescar. Rondineli se sente um pai realizado. “Sinto orgulho em ver suas conquistas, ele está indo atrás de seus sonhos. Sei que seremos sempre amigos”