SÃO MATEUS: Aconteceu no dia 12 de abril de 2022, na Catedral Diocesana de São Mateus, a Missa da Unidade e benção dos Santos Óleos.
Na ocasião, reúne-se todo clero da Diocese para renovação das promessas sacerdotais: momento de grande comunhão, espiritualidade e oração pelas vocações.
Em sua homilia, o Bispo Diocesano, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, acolheu a todos(as) e destacou que ao percorrer o caminho para a Páscoa e para a vida é necessário considerar alguns aspectos, trazendo como temática central e oração: Jesus e presbíteros: uma relação de encanto, de dores e ressurreição.
Diante desta temática central, alguns pontos serviram para reflexão nesse momento: a obediência de Jesus mesmo diante da dor e do sofrimento, a atitude coerente do mestre diante da traição de Judas, a inocência de Jesus diante das acusações que não o livrou da condenação e da morte injusta, a ideia de que éramos invencíveis até a chegada de uma pandemia mundial, a lição de Jesus diante dos encontros, a passagem das trevas para a luz, e ainda enfatizou que: Semana Santa e Carnaval não combinam, manifestando nesta fala a sua insatisfação diante da escolha da Semana Maior para a comemoração da Festa, conhecida popularmente como “festa da carne”, destacando ainda que: A palavra carnaval vem do latim carne levare, que significa “afastar-se da carne”. “Adeus a carne”.
Em seu último ponto reflexivo, descreve o ministério de Jesus aqui na Terra que se constitui também, hoje, a nossa missão, pelo poder do Espírito Santo de Deus: “anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, recuperar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor”. Esta é a missão de cada batizado.
Já em sua fala final, convidou todo povo santo de Deus a buscar uma conversão sincera e verdadeira para proclamarmos o ano da graça do Senhor e assim ressuscitarmos juntamente com Ele para uma vida nova.
Leia a Homilia do Bispo Diocesano, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, na integra:
MISSA DO SANTO CRISMA E RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS SACERDOTAIS
Bênção dos Santos Óleos – Catedral – 12/04/22
(Homilia de Dom Paulo Bosi Dal´Bó)
Jesus e presbíteros: uma relação de encanto, de dores e ressurreição.
– Excelentíssimo Dom Aldo, reverendíssimos e amados Presbíteros, Diácono, Religiosos e Religiosas, Seminaristas, representantes das paróquias, autoridades constituídas ou representadas e todo povo santo de Deus. Minha saudação fraterna, também aos queridos ouvintes da Rádio Kairós (a rádio da família) e demais meios de comunicação social.
Amados irmãos e irmãs, com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor tem início a Semana Santa. A liturgia de hoje, da bênção dos Santos óleos e da renovação das promessas sacerdotais é regada com o espírito da Semana Santa. Muitas Dioceses celebram este mistério na quinta-feira Santa pela manhã. Percorrer o caminho para a Páscoa e para vida é necessário considerarmos alguns aspectos, por isso trago para reflexão e oração: Jesus e presbíteros: uma relação de encanto, de dores e ressurreição.
1) A primeira ideia a considerar é que Jesus é o servo obediente de Deus; obediência que o Senhor aprendeu até mesmo na dor e no sofrimento. A liturgia começa com a entrada de Jesus em Jerusalém! Tudo foi muito triunfal. Um jumentinho levando um homem com características de rei. Um povo que gritava: “Hosana ao Filho de Davi!” e jogava ramos de palmeiras para ele passar. Parecia ser uma trajetória de glória para Jesus.
Sua entrada triunfal em Jerusalém foi um evento marcado por emoções, que em pouco tempo deixou de existir e deu espaço ao julgamento e condenação. O mesmo povo que o aclamou rei, boa parte deste povo o condenou à morte. Sua trajetória foi marcada por encantos, encontros e desencontros, alegrias, dores e sofrimentos.
2) A segunda consideração nos vem do relato da paixão: Jesus é traído por um dos seus (Judas), que partilhou com ele a vida e a fé. Comeu do mesmo prato. Mas é bom destacar que não foi apenas um que o traiu, todos os seus discípulos de uma forma ou de outra também deixaram a desejar, ou o negaram de alguma forma. Negar e abandonar, quando Jesus mais precisava deles também é trair. Não tiveram a coragem de permanecer com o Senhor, que eles diziam amar tanto. Que dor pode ser maior que a traição e o abandono de quem está próximo? A espada mais cortante do que aquela que feriu a orelha do servo do centurião é a traição, essa atinge a confiança e o coração.
3) A terceira consideração nesta Semana Santa é que Jesus é o inocente condenado injustamente à morte. A inveja, segundo o Evangelho, principalmente o evangelista Marcos, é um dos motivos da condenação e da morte de Jesus. A inveja não é racional; como toda paixão que afeta o coração do ser humano, ela é irracional. Dominado pela inveja, o ser humano age perversamente, buscando eliminar quem quer que seja. Segundo relata o Evangelho, Pilatos sabia da inocência de Jesus e do motivo sórdido pelo qual ele foi entregue, mas por razões políticas a sua decisão foi conivente com a injustiça dos que acusaram e entregaram Jesus à morte. Jesus encanta multidões, porém desperta ciúme e inveja em muitos líderes e autoridades.
4) A quarta ideia a considerar: assim é a nossa história, a história do papa, do bispo, do presbítero, do diácono, do religioso (a) e de todos nós. Nesse mundo globalizado, tecnológico, jamais imaginado por um medieval. Parecíamos invencíveis, até o dia da chegada do novocoronavírus e seus aliados da morte prematura, em março de 2020. Para piorar, além do novo coronavírus veio também a guerra (envolvendo a Rússia e Ucrânia que se estende para outros países), ceifando precocemente tantas vidas. No calvário onde estão presentes o novo coronavírus e a guerra, juntou-se a eles o adoecimento emocional e espiritual de tantos filhos e filhas de Deus; o cenário político de pouca confiança e esperança; a inversão de valores na família e na educação; o auto índice de mortes violentas nos homicídios, suicídios, no trânsito e no tráfico; a ausência de muitos cristãos católicos de suas comunidades, buscando no vírus do Covid 19 um amuleto para justificar a sua ausência da Igreja e do compromisso com o Evangelho; as tentações demoníacas no mau uso das redes sociais, etc. Mas a vida é assim, cheia de encontros bons e ruins. O segredo é como lidamos com eles. Ninguém pode rejeitar o sofrimento, ele chega sem pedir licença.
5) A quinta ideia a considerar é aprender com Jesus, como lidar com os diversos encontros. Jesus, até o momento final de sua vida na cruz, teve vários encontros: Ele encontrou-se com uma mulher que emocionada e encantada derramou perfume caro em seus pés; encontrou-se com um traidor que se passava por apóstolo e um apóstolo que o traiu antes do canto do galo; encontrou-se com um Simão Cirineu que o ajudou a carregar a pesada cruz; encontrou-se com os seus apóstolos para celebrar uma ceia festiva; encontrou-se com a dor pressentida de morte, no Getsêmani; encontrou-se com o poderoso Pilatos que o interroga e o envia para ser crucificado; encontrou-se com o povo que, diferentemente do dia da entrada em Jerusalém, pede a sua condenação; encontrou-se com a cruz da morte e com o sepulcro frio e vazio; e por fim, encontrou-se com a sua mãe, sua tia Maria, com Madalena, com sua amiga Salomé e com o seu amigo José de Arimateia, que lhe ofereceu com o seu dinheiro, um enterro digno de rei.
Nós também, durante a nossa vida, na caminhada de esperança e paixão, nos encontramos no Getsêmani de nossas dores de morte e com pessoas que nos oferecem perfumes, flores de afeto, de ternura, de carinho, assim como as da mulher de Betânia. Quem nunca teve um Cirineu que o ajudou a carregar a cruz? Quem nesta vida também nunca sofreu a dor da traição de um amigo ou de um familiar? Todos eles podem ser os Judas de nossa história. São tantos os Pilatos, os que dizem que não têm nada a ver com isso, ou com a vida do próximo. O melhor é que nunca esqueceremos os encontros, os momentos em que nos reunimos para celebrar a ceia da vida! Aqui nesta missa dos santos óleos e renovação das promessas sacerdotais deve ser a ceia da vida e do recomeço. A ceia do fortalecimento de nossas relações interpessoais. E é isso, o que nos ajuda a amenizar a dor, que nos espera na primeira esquina, ou até mesmo, no próprio banquete.
Assim aconteceu com Jesus, uma cruz o esperava em Jerusalém! Mas nesse encontro final de Jesus com a cruz, as pessoas que o amaram em vida, estavam ali com Ele. Quem ama cuida, se faz presente e vai até as últimas consequências por amor.
6) A sexta ideia a considerar: das trevas à luz. Amados irmãos e irmãs, quando tudo parecia perdido, de repente, da escuridão do sepulcro brilhou a luz da esperança e da nova vida para todos. Em três dias, Jesus ressuscitou, renascendo a esperança apesar de tudo e de todos. Ele ressuscitou e está vivo entre nós, está conosco. A luz do ressuscitado ilumina o mundo. É passagem; é um fim e um recomeço ao mesmo tempo; as trevas dão lugar à luz; a morte não impera mais. Diante de tantas trevas nos últimos tempos, por que não pensar positivamente em dias melhores? A luz da vida vai brilhar. Acreditemos nisso.
Com o fim da pandemia ou convivendo com ela na escala Azul, precisamos voltar ao templo com a fé renovada, com mais força e coragem, deixar a nossa luz brilhar, pois juntos somos mais fortes. É preciso nos reencantarmos, pois a missão continua e precisamos estar fortalecidos para o anúncio do Evangelho. Não podemos deixar apagar a chama da esperança que fumega em nós.
Mesmo em meio às trevas, a minha luz e a luz do outro precisam brilhar, para que a minha luz brilhe, eu não preciso apagar a luz do outro. A Igreja e o mundo aos quais pertencemos e vivemos, têm espaço para que todas as luzes brilhem juntas.
7) A sétima ideia a considerar: Semana Santa e carnaval não combinam. Muitos fiéis estão viajando para pular e curtir carnaval no final de semana, como um grande feriado.
A palavra carnaval vem do latim carne levare, que significa “afastar-se da carne”. “Adeus a carne”. O termo começou a circular por volta dos séculos XI e XII e se referia à véspera da Quarta-Feira de Cinzas, época em que se iniciava a abstenção da carne. Assim, o carnaval era o último dia permitido para o consumo de carne antes dos dias do jejum da quaresma.
Segundo alguns historiadores, o carnaval existe há mais de três mil anos, é a festa profana mais antiga. Suas raízes encontram-se nas celebrações greco-romanas, conhecidas como bacanais. A festa era dedicada ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio para os gregos) e marcada pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.
No Brasil, alguns registros afirmam que o carnaval chegou ao país durante o período colonial, no século XVII, por meio dos portugueses. Inicialmente batizado como “entrudo”, a festa era baseada em brincadeiras em que as pessoas sujavam umas as outras e acabava sendo mais praticada pelos escravos. Com a independência do Brasil, em 1822, intelectuais e artistas trouxeram ao País as festas italianas e francesas, já com o nome de carnaval. Assim, deu início aos bailes e desfiles de alegorias.
A Igreja não tem nada contra, quando o carnaval acontece de forma respeitosa no seu tempo, antes da Quarta-feira de Cinzas como bailes, desfiles de alegorias, sendo o último dia para o consumo de carne antes dos dias do jejum da quaresma, agora, na Semana Santa é inadmissível aceitar. É uma blasfêmia. Estas pessoas estão banalizando a fé e brincando com Deus. Tomem cuidado meu povo, com Deus não se brinca.
8) A oitava ideia a considerar: eu trago o próprio Evangelho de hoje. O ministério de Jesus continua em nossa missão. O Evangelho de Lucas 4, 16-21, escolhido para esta liturgia, descreve o ministério de Jesus aqui na terra que se constitui também, hoje, a nossa missão, pelo poder do Espírito Santo de Deus: “anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, recuperar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor”. Esta é a missão de cada batizado. O Reino de Deus só acontecerá de forma plena, quando todos os batizados se sentirem responsáveis pelo seu anúncio. É missão de todos e não apenas de alguns.
Nesta Semana Santa busquemos a nossa conversão sincera e verdadeira, para proclamarmos o ano da graça do Senhor e ressuscitar com Ele para a vida nova em sua Páscoa. Assim seja. Amém! (Assessoria de Comunicação da Diocese de São Mateus)