ES: Nesta quinta-feira (25), o projeto “Mulheres que Inspiram”, organizado pelo cineclube Cine por Elas, de Vila Velha, apresenta uma sessão especial dedicada à luta das mulheres na agroecologia, com homenagem ao trabalho de Ana Primavesi, precursora do tema no Brasil. O documentário “Ecos da Terra”, roteirizado por Fernanda Couzemenco e Ursula Dart, e dirigido pela capixaba Ursula Dart, é o destaque desta edição, oferecendo uma visão inspiradora e contando a história de seis mulheres que fazem da agroecologia uma forma de pensar saúde e movimentos sociais.
Além da exibição do filme, a sessão será uma oportunidade para homenagear Ana Primavesi, uma figura icônica na agroecologia e que deixou importante legado pelo trabalho desenvolvido no País. Precursora do tema no Brasil, Ana Primavesi foi uma importante pesquisadora do tema e responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo em geral, em especial o manejo ecológico do solo. Depois da sessão, haverá uma roda de conversa com as idealizadoras do coletivo Nossos Quintais, iniciativa que trabalha com segurança alimentar e bem-estar mental em diversas comunidades.
O projeto “Mulheres que Inspiram” é uma realização do Cine por Elas, por meio do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria da Cultura (Secult), e contemplado no Edital de Manutenção de Cineclubes.
Sobre o Cine por Elas:
O Cine por Elas é um cineclube criado em dezembro de 2020 em Vila Velha, com objetivo de reunir, projetar, discutir, democratizar o conhecimento e movimentar as mulheres capixabas. Atua na transversalidade dos saberes, em diversas áreas: Educação, Meio Ambiente, Direitos Humanos e Movimentos Sociais. A proposta é incentivar o encontro entre mulheres para a reflexão sobre questões culturais e sociais, tecendo uma rede de afeto, apoio e informação.
Documentário “Ecos da Terra”
“Ecos da Terra” percorreu mais de dois mil quilômetros no Espírito Santo para registrar histórias de seis mulheres que fazem da agroecologia uma realidade potente em suas vidas, de suas famílias, comunidades e movimentos sociais.
Com cerca de 50 minutos de duração, o filme aborda as escolhas cotidianas que levaram as seis personagens, anos atrás, a se decidirem pela ruptura com a lógica do veneno. Com o olhar sensível de Ursula Dart e cerca de 50 minutos de duração, o filme aborda as escolhas cotidianas que levaram as personagens, anos atrás, a se decidirem pela ruptura com a lógica do veneno.
Por meio de suas jornadas e experiências, o documentário revela não apenas os desafios que enfrentam, mas também a resiliência e a inovação que trazem para a mesa.
Participaram do documentário, com seus depoimentos e histórias de vida, as agricultoras capixabas Ana Flavia Luck, Erenilda Luzia Schuina Ferreira Guio, Flavia dos Santos, Maria José Gonçalves Luck, Joselma Maria Pereira, Josiane de Abreu Machado, Marijane Luck e Selene Hammer Tesch.
O coletivo Nossos Quintais
O coletivo Nossos Quintais foi criado durante o período pandêmico, em resposta à necessidade de garantir o acesso a alimentos saudáveis na comunidade do Morro da Capixaba, em Vitória, por meio da criação da Horta Comunitária Jardim da Capixaba.
Inicialmente, o foco era a segurança alimentar e o bem-estar mental dos moradores locais. Após uma pausa em suas atividades em 2021, o coletivo retomou suas ações em 2022 na região periférica da Grande Terra Vermelha, onde suas integrantes residem atualmente. A percepção da importância dos quintais produtivos, principalmente mantidos por mulheres como fonte de reforço alimentar para as famílias, levou ao fortalecimento desses espaços e à criação do coletivo.
Atualmente, o coletivo Nossos Quintais se reúne periodicamente nos quintais, promovendo momentos de escuta, trocas de saberes e estratégias de geração de renda baseadas no bem viver. A colaboração entre os membros permite ampliar a variedade de produções e fortalecer os laços comunitários, com todas as integrantes crescendo juntas, por meio dessa rede de apoio mútuo.
Além das ações internas diárias, como a manutenção dos espaços, cuidado social e mental das integrantes, o coletivo realiza vivências e oficinas voltadas à agroecologia, geração de renda e o bem viver. Articulando-se com redes e outros coletivos se engaja em parcerias e colaborações que compartilham interesses e objetivos semelhantes, visando a fortalecer a atuação coletiva e a ampliar o alcance das suas ações.
O coletivo Nossos Quintais é parte ativa da Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (RUCA), que mobiliza um GT de Quintais Produtivos para fortalecer as ações promovidas. O coletivo também está presente no CRJ Centro de Referência das Juventudes (CRJ) de Terra Vermelha, onde desenvolve a Oficina Mãos na Terra.
Atua também em fóruns e conselhos onde está envolvido em instâncias de participação cidadã, como o Fórum Estadual de Economia Solidária do Espírito Santo, o Conselho Municipal pelos Direitos das Mulheres e o Conselho Municipal de Segurança Alimentar, contribuindo com a visão e propostas para a construção de políticas públicas e a promoção de direitos específicos, como os direitos das mulheres e a segurança alimentar. Essas ações demonstram um compromisso do coletivo com a promoção da agroecologia, do bem-estar comunitário e da participação cidadã em diferentes esferas. Visa também ao desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas.
A homenageada Ana Primavesi
Nascida na Áustria em 1920, Ana Maria Primavesi foi presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e chegou na década de 1950 ao Brasil, onde deu vida a uma extensa produção acadêmica que se contrapôs ao avanço desenfreado do agronegócio.
Foi professora da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica.
Autora de dezenas de livros e centenas de artigos acadêmicos, Primavesi foi também fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO) e, ao longo de sua carreira, e recebeu uma série de prêmios, como o One World Award, da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM).
“Ela lutou bastante. No começo, apresentava as defesas dela e enfrentava um mundo muito masculino. Eram debates bem calorosos. Mas ela falava, sabia como era e não deixava cair a peteca. “Ela fez tudo pelo amor à terra. Não buscava nada em troca. Queria difundir [o conhecimento]. Mesmo se tivessem poucas pessoas para ouvi-la, ela falava”, completou Carin Primavesi.
Foi em busca do aprimoramento de uma relação respeitosa com a terra que os passos de Ana Maria Primavesi se entrelaçaram com os do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST). A engenheira agrônoma faleceu em 05 de janeiro de 2020, aos 99 anos, em decorrência de problemas cardíacos.