ES: A Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa do Espírito Santo realizou, na noite desta quinta-feira (26), uma audiência pública em homenagem às famílias doadoras de órgãos e às instituições que auxiliam no processo de transplantes. O evento vai ao encontro da campanha “Setembro Verde”, mês de debates e conscientização sobre a importância da doação e transplante de órgãos e tecidos.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) foi representada na audiência pelo subsecretário de Estado de Planejamento e Transparência da Saúde, José Tadeu Marino. No entanto, ele disse que preferia falar como receptor de órgão, e não como subsecretário, já que passou pelo processo de transplante de rim há cinco anos:
“Não dá para deixar de agradecer a todas as famílias que no momento de dor fazem esse ato de doação e nos tira de um sofrimento. Quem está em uma fila para receber um órgão, sabe o que é conviver com a morte. Diariamente você vai para casa e fala ‘será que eu vou ter um órgão?’. É muito sofrimento. Quando a gente está na máquina, dependendo da comorbidade, fica anos ali, ou não. Assim como as pessoas do coração que não conseguem caminhar mais de 10 metros sem se cansar, assim como as pessoas que deixaram de ver as maravilhas que Deus deixou para gente como as flores, rosas vermelhas, folhas verdes, se o dia está mais escuro ou mais claro, o sol tá brilhando, se o mar está transparente ou não. Então esse o ato fez com que eu, por exemplo, voltasse à plenitude da minha vida.”
O subsecretário contou que recebeu o órgão de uma irmã de transplante. “Essa senhora que estava ganhando seu filho, teve uma eclampsia com 28 anos de idade, o filhinho dela tem 5 anos de vida hoje, graças a Deus” Ela tinha mais compatibilidade comigo do que meus irmãos. Eu fiz a cirurgia e nunca mais precisei fazer diálise na vida”, contou.
Tadeu Marino destacou ainda que as pessoas não precisam ter medo de autorizar a doação dos órgãos de seu ente, pois é um processo seguro. “Basta dizer na sua família, com seus amigos, que quer ser doador de órgãos, só isso. A política de transplantes no Brasil é séria, ela funciona”, garantiu.
Além do subsecretário Tadeu Marino e do presidente da Comissão, deputado Hércules Silveira, também compuseram a mesa o presidente da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Espírito Santo (OAB-ES), Alexandre Mariano Ferreira; o presidente da Comissão de Direito Médico da OAB-ES, Eduardo Merlo de Amorim; a representante do Conselho Regional de Enfermagem, Rosane Baptista; o presidente da Associação Pró-Vida Transplantes e Hepatites Virais do Espírito Santo, Adauto Vieira de Almeida; e a coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), Maria Machado.
Relatos de famílias doadoras e de receptores de órgãos
Durante a audiência pública, Rafael Martins do Nascimento, primo do menino Gabriel Martins, 11 anos, morto em um acidente na BR-101, em junho deste ano, contou aos presentes como foi a experiência de, mesmo em um momento de profunda dor, poder realizar este gesto de amor e doar os órgãos da criança.
“Foi um momento muito difícil, e estamos ainda abalados com tudo o que aconteceu. Mas após uma conversa do corpo médico com todos da família fizemos uma reflexão da importância do valor da vida, e decidimos doar [os órgãos]”, relembrou Nascimento.
No acidente em que Gabriel morreu, também foram vitimados a mãe dele, Danielli Martins; o pai, Ozineto Francisco Rodrigues; e o irmão mais novo, Lucca Martins, mas a doação não foi possível pois eles morreram no local.
Mas também houve histórias de gratidão de quem recebeu a doação. Um desses relatos foi feito por José Carlos de Oliveira, que é transplantado. Ele recebeu o coração de uma pessoa falecida em acidente. “Em janeiro de 2011 fui diagnosticado com miocardiopatia dilatada, o coração vai perdendo a capacidade de bombear o sangue. Em 2015, coloquei marca-passo, até que chegou um dia em que fui avisado da necessidade de entrar na fila para transplante”, relatou.
José Carlos disse que teve várias internações, algumas com complicações; em uma delas perdeu todos os movimentos e não mexia nem os dedos. “No dia 5 de fevereiro de 2017 tive crise muito forte, me colocaram na respiração (mecânica) e comunicaram à minha esposa que eu já estava em processo de falência múltipla de órgãos”, continuou.
Os médicos apontaram que a expectativa de vida de José Carlos era de 15 dias. Mas, na noite do dia seguinte, 6 de fevereiro, a família soube que no Rio de Janeiro havia um coração compatível para doação. “Aconteceu um acidente, uma moça teve morte encefálica, e a família fez a doação, que salvou a minha vida. Eu sou um milagre de Deus”, disse, emocionado.
Hospitais são homenageados pelo alto índice de notificações
Durante a audiência pública, alguns hospitais foram homenageados por terem apresentando um bom número de notificações. O Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), em Vitória, representado pelo enfermeiro da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), Thiago Martins, recebeu uma homenagem por ser o primeiro, dos três hospitais com o maior número de notificações no Estado.
“Um sim de uma família representa recomeços para outras pessoas. Ser reconhecido como o hospital do Estado que mais realizou a notificação de um potencial doador, reforça a importância de manter uma assistência eficaz e acolhedora durante os processos de entrevista familiar”, afirmou.
Também foram citados o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, e a Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro de Itapemirim.
A coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), Maria Machado, agradeceu às equipes dos hospitais pelos trabalhos realizados.
Ela ainda destacou que durante todo o mês de setembro foram realizadas diversas ações com intuito de sensibilizar a população e explicar todo o complexo processo de doação e transplantes. “O processo de doação e transplantes é um programa que segue leis, decretos e resoluções. Possuímos um sistema normativo que garante justiça, transparência e equidade no acesso ao transplante, inibindo quaisquer práticas ilícitas e garantindo lisura no processo de doação e transplantes.
Maria Machado pontuou ainda que há necessidade de avanços para que o Estado atinja as metas relativas a esse tipo de serviço.
Também estiveram presentes na ocasião o coordenador do Serviço de Verificação de óbito (SVO), Danilo Cardoso Ourique; a enfermeira coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, Rosemere Erlacher; e o enfermeiro coordenador da CIHDOTT do hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), Thiago Martins.
O que é transplante de órgãos?
É um procedimento cirúrgico regulamentado por lei, no qual um órgão ou tecido doente é substituído por outro saudável, que tem por objetivo melhorar a qualidade de vida. Para isso, é preciso que haja doadores – vivos ou mortos.
O transplante é um tratamento efetivo para muitas doenças e, eventualmente, se torna a única opção terapêutica. (Secom-ES)