ES: A seca que atinge parte do território do Espírito Santo já prejudica cerca de 400 mil capixabas. Essa população está distribuída entre os 16 municípios localizados na região noroeste, onde a situação é pior devido a redução de chuvas em janeiro.
Desde o início do ano, municípios desta região, como Itaguaçu, Santa Teresa e Itarana, por exemplo, já sentem os efeitos da ausência de precipitação, chegando ao ponto de ser necessário o racionamento de água. Em Colatina, a maior cidade do Noroeste, o nível de baixa do Rio Doce chegou a 90 centímetros em julho. Os agricultores de São Roque do Canaã, onde passa o Rio Santa Maria, estavam restritos a usar irrigação apenas duas vezes por semana.
De acordo com Hugo Ramos, coordenador de meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o processo de estiagem de abril a outubro está dentro do esperado e provocou seca fraca na maior parte do território. “Porém, a entrada do período seco piorou o quadro da região oeste. É uma seca mais crítica em razão das poucas chuvas no período de novembro a abril, e que se tornou mais grave com a chegada do período de estiagem”, explicou.
No Espírito Santo, as precipitações ocorridas em 2019 se concentram no litoral norte, mantendo sem registro de seca nesta região já habitualmente com menos chuvas, segundo o mapa do Monitor da Seca realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA).
“O Estado entrou no Monitor da Seca em julho para que fosse realizado o monitoramento do processo de estiagem que, atestadamente, vem aumentando”, pontuou Hugo Ramos.
MONITOR DA SECA
As análises do Monitor da Seca apontam que as chuvas reduzidas no restante do Estado colaboraram para um leve aumento da área de seca fraca de julho para agosto. Da mesma forma, na região oeste, que se aproxima de Minas Gerais, que pouco teve a presença de chuvas no início do ano, também cresceu a área afetada no mesmo período.
As bacias dos rios Santa Maria do Doce e Santa Joana são as mais críticas, pois a ocorrência de chuvas está abaixo da média, ou seja, entramos no período de estiagem já com uma baixa recarga de aquíferos. Temos uma condição de desabastecimento dos aquíferos que vem ao longo de cinco anos, por isso a seca vem se acentuando”, explica Fábio Ahnert, diretor-presidente da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh).
Ahnert afirma que as mudanças climáticas globais têm influenciando muito no regime de período de chuva. “Não estamos mais tendo regularidade de distribuição de chuvas, pois elas sofrem com as alterações do clima. Os próximos anos devem piorar. Há décadas atrás, o período de chuvas era bem definido e havia um reabastecimento das bacias hidrográficas para suportar o tempo de seca”, explicou.
Os níveis dos rios têm caído rapidamente e as chuvas têm sido cada vez mais espaçadas. “Temos que fazer com que toda chuva que caia infiltre no solo, se torne uma esponja, para carregar ao máximo possível esses aquíferos”, afirma o diretor da Agerh. Entre as atividades estão o monitoramento, o Fórum de Mudanças Climáticas e o planejamento de ações como reflorestamento de áreas de Mata Atlântica no Espírito Santo.
“O que nos preocupa é o que vem depois do período de seca. As demandas de água para a agricultura, processos industriais e para uso do cidadão são necessárias e, atualmente, vivemos uma época que não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar água. Ainda não chega a ser como a crise de 2014 a 2017, quando houve falta de abastecimento em boa parte do Espírito Santo, mas nos deixa em alerta”, conclui. (Gazetaon-line)
Leia mais:
Água para agricultura só em três dias por semana em cidades do ES