ES: Um dos maiores desafios apresentados ao administrador público – talvez o maior deles – é discernir, entre as inúmeras decisões que precisa tomar, os verdadeiros interesses da sociedade que representa. Não é tarefa fácil, principalmente se considerarmos que, muitas vezes, o governante tem de optar entre alternativas imperfeitas ou insatisfatórias por falta de informações adequadas, exigência de prazos, escassez de recursos ou devido a pressões políticas. Governar é escolher. Pudemos comprovar isso nas decisões tomadas pelo governo do Espírito Santo com relação à pandemia de novo coronavírus.
Diante do ineditismo do vírus e do oceano de dúvidas sobre a melhor forma de enfrentá-lo, governantes de todo o planeta se viram obrigados a decisões de enorme impacto social e econômico, baseados em teses sem comprovação científica. A alta letalidade do Covid-19, sua espantosa capacidade de transmissão e os longos períodos de internação necessários à recuperação dos doentes se associaram para exigir das autoridades medidas imediatas. Assim, na ausência de informações confiáveis, experiência consolidada e diretivas científicas claras, os governos mundo afora adotaram caminhos diferentes para responder ao avanço da doença.
Alguns investiram na testagem em massa da população, como estratégia de monitoramento e prevenção. Outros optaram por medidas rigorosas de isolamento social. E uns poucos tentaram minimizar o problema, na esperança pouco sustentada de responder à pandemia com medicamentos sem eficácia comprovada. Porém, apesar das diferenças de abordagem, quase todos atuaram de forma coordenada em seu próprio território, o que não ocorreu no Brasil.
Devido ao negacionismo que ainda marca a posição do governo central e à consequente ausência de uma coordenação unificada, cada estado brasileiro foi obrigado a buscar soluções próprias para enfrentar a doença. Enquanto alguns investiam centenas de milhões de reais em hospitais de campanha, outros preferiam adotar protocolos de isolamento mais rigorosos. E ainda houve aqueles que oscilaram entre as duas opções e agora enfrentam o colapso dos seu sistema de saúde.
No Espírito Santo, a decisão do governo foi pela ampliação da oferta de leitos de internação e de tratamento intensivo. Mas, diferentemente do que ocorreu em estados vizinhos, a opção capixaba passou ao largo das instalações de campanha, para investir na implantação desses novos leitos em hospitais readequados, ampliados ou reativados. Uma decisão estratégica que, além de garantir atendimento imediato aos doentes, deixará como legado um enorme salto de qualidade e capacidade na estrutura de saúde pública do estado.
Hoje, quando a pandemia dá os primeiros sinais de arrefecimento nos grandes centros urbanos do país, algumas das caríssimas instalações temporárias começam a entrar em processo de desativação. Isto para falar apenas daquelas efetivamente instaladas, uma vez que parte do contratado jamais foi entregue e denúncias de corrupção e desperdício se multiplicam. Enquanto isso, além de garantir que o dinheiro investido continue beneficiando os cidadãos, o Espírito Santo é reconhecido como o estado mais transparente do Brasil com as despesas relacionadas ao Covid-19.
Sabemos que nos primeiros meses do ano, quando a pandemia entrou de fato na agenda do planeta, os gestores públicos não dispunham de informações suficientes para sustentar decisões seguras. Ainda assim, era preciso decidir, e foi aí que entraram em cena as diferenças de visão, compromisso social e resiliência de cada líder diante das inevitáveis pressões da sociedade. Mesmo enfrentando uma oposição muitas vezes desleal, a firmeza demonstrada pelo governador capixaba foi determinante para o enfrentamento desse drama. Com sensibilidade, coragem e autoridade, Renato Casagrande comprovou mais uma vez que governar é discernir os verdadeiros interesses da população, e não se render ao efeito manada que costuma imperar em situações de crise.
Prazer, Burgarelli. Um capixaba.
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