BRASIL: Adriana me impactou logo de cara ao resumir, brilhantemente, a essência da adoção: “Engravidar não era primordial para mim, e sim ser mãe”. Nesse contexto, ela e o marido se mostraram receptivos às mudanças da vida, de conceitos, de planos. Escolheram dar e receber amor e estão cada vez mais maravilhados com a escolha que fizeram. “O amor surge e se estabelece de forma imperceptível. Quando a gente se dá conta, é tudo de bom!”, constata o casal.
Mas entre a decisão de adotar e o final feliz, muita coisa aconteceu.
AS TENTATIVAS
O desejo de ser mãe demorou a surgir para a Adriana. Médica cardiologista, ela deu foco à profissão por anos. Mas quando encontrou a pessoa certa para dividir os projetos de vida, colocou a maternidade em pauta e já no primeiro ano de casamento, suspendeu os métodos contraceptivos. Mas três anos se passaram e a gravidez não aconteceu.
A partir daí, Adriana e o marido começaram a buscar mais informações sobre o assunto e fizeram exames específicos, que não identificaram problemas no casal. Os dois optaram, então, pela inseminação artificial. Após quatro tentativas sem sucesso e os respectivos abortos espontâneos, decidiram parar.
“O processo de fertilização in vitro é muito desgastante por causa da grande carga hormonal a qual a mulher é submetida. Além disso, o emocional é muito afetado. Sinceramente, chega um determinado momento em que a gente se pergunta: vale a pena buscar a maternidade tradicional a qualquer custo?”
Conta ainda que como também refletiu sobre outras questões: “Quando a mulher tem mais de 35 anos, a qualidade dos óvulos produzidos começa a diminui. Um dos sinais é o aborto espontâneo e outra consequência pode ser a malformação do feto. Para mim estava claro que, se a gravidez não chegasse com o tratamento, é porque não era para ser. Felizmente o Chico, meu marido, pensava como eu”, conta Adriana.
ADOÇÃO, SEMPRE CONSIDERADA
A possibilidade de adotar sempre esteve presente nas conversas do casal. Por isso, Adriana e o Chico entraram no cadastro de adoção ao mesmo tempo em que iniciaram o tratamento para engravidar. Antes, ambos conversaram muito, expuseram os medos e foram sinceros sobre os sentimentos
“Um detalhe interessante é que nós preenchemos separadamente o formulário de descrição de perfil de criança desejada. Ao confrontarmos os formulários, percebemos que desejávamos o mesmo perfil de criança: não tínhamos preferências quanto a sexo, gostaríamos que a idade fosse em torno dos 5 anos e não separaríamos irmãos. Por isso, estávamos dispostos a adotar até três crianças”.
O PROCESSO DE ADOÇÃO
“O processo de adoção não é algo para quem tem dúvidas porque é muito burocrático e demorado. Quem não tem certeza sobre a adoção, desiste no meio do caminho”, pontua Adriana. Ela e o marido, por exemplo: descobriram que o processo deles havia sido arquivado por desorganização, ainda tiveram que ir ao fórum frequentemente para cobrar respostas, o que gerou atraso de quase um mês para habilitá-los a adotar, assim o casal ficou um ano e sete meses na fila até ser chamado
A CHEGADA DAS CRIANÇAS
“Os nove meses de gestação preparam o casal para a mudança de vida e na estrutura da casa. No nosso caso, a chegada do filho não tinha data marcada. Quando fomos chamados para conhecer as filhas, tivemos um misto de sensações”, relembra Adriana descrevendo a cena.
“Fomos ao encontro delas com a certeza de que só não as levaríamos caso elas nos rejeitassem. A Laila tinha 2,5 anos e a Rafaela, 3,9 anos. Então, quando as encontramos, dissemos que desejávamos ser pai e mãe, que elas precisavam de um papai e de uma mamãe e perguntamos: vocês aceitam tentar? Estamos em pé de igualdade. Somos dois e vocês também são duas. Naquele momento, duas crianças tão pequenas já tiveram que demonstrar coragem para decidir. Felizmente, elas nos receberam super bem, em menos de uma semana estávamos com a guarda provisória das nossas filhas e com elas em casa”.
A ADAPTAÇÃO
A Adriana se recorda de que…num dia, eram dois no apartamento. No dia seguinte, quatro. “Foi uma correria para providenciar roupas, fraldas, tudo que era necessário. Nos primeiros momentos com elas em casa, quisemos dar banho e deixá-las livres: somente de fralda e cabelos soltos. Laila, a mais nova, ficou encantada e se admirando em frente ao espelho. Já a Rafaela era mais desconfiada e observadora. Nossas filhas queriam muito receber e dar afeto. Sempre foram amorosas, inteligentes, dispostas a falar e ouvir”.
Ao longo da adaptação, Adriana e Chico tiveram dúvidas se o melhor caminho seria falar abertamente sobre tudo com as meninas. Mas decidiram construir a família com base em conversa e verdade. Por isso, tiveram e ainda têm, os quatro, bate-papos muito difíceis. Mas o tempo tem se encarregado de colocar tudo no lugar, de encaixar as peças.
A GUARDA DEFINITIVA
Essa reportagem coincide com um momento muito especial para a Adriana, o marido e as filhas. Após três anos e meio, recentemente saiu a guarda definitiva. Agora, eles querem batizar as filhas e dar o sobrenome deles a elas, encerrando mais um constrangimento. Ao avaliar o processo de adoção, Adriana conclui que ainda há muito a melhorar, principalmente, para proteger a criança. Ela sentiu falta, por exemplo: de visitas da justiça para verificar a adaptação das meninas e como elas estavam sendo tratadas. A única exigência foi que, a cada seis meses, quem adotou comparecesse ao fórum para renovar a guarda. Não havia pedido para levar as crianças ou apresentar comprovante escolar.
“Por tudo isso, ressalto a necessidade da parceria do casal diante da escolha da adoção. Não é fácil, mas vale muito a pena. Hoje, não somos melhores por adotar, mas ficarmos melhores após a adoção”, reflete Adriana – de forma inspiradora!