BRASIL: Cristina, Eciliane, Rosa e Wanessa — quatro mulheres, quatro testemunhos de renascimento com notável força, gratidão e resiliência após vencerem o desafio do diagnóstico de câncer de mama. Com dedicação ao autocuidado e esperança no futuro, essas mulheres redefiniram suas jornadas e seus relatos são uma celebração da vida em tons de rosa
Em um mundo em que a coragem se transforma em força e a esperança brilha mais forte que nunca, o câncer de mama esbarra em mulheres fortes, que se recusam a se render. Juntas, elas compõem a paleta cor de rosa de resiliência, amor e determinação, revelando ao mundo que a batalha contra a doença é uma história de superação que merece ser contada. Por isso, são retratadas nas telas da vida como símbolos de amor-próprio.
Neste mês de outubro, contamos as histórias de Cristina Roberto, Eciliane de Sousa, Wanessa Andrade e Rosa Maria Mororó, que personificam a vitória diante da guerra contra o câncer de mama. Ou melhor, cânceres de mama e seus diversos tratamentos, como bem explica o médico Cristiano Resende, oncologista da Oncoclínicas Brasília e especialista em câncer de mama. “O tratamento envolve várias abordagens, dependendo do estágio e do subtipo. Isso inclui cirurgia, radioterapia e tratamento medicamentoso como quimioterapia, endocrinoterapia, terapia alvo e imunoterapia.”
O acompanhamento médico é vital, com consultas regulares, exames laboratoriais e mamografias anuais. O apoio multidisciplinar, chamado de survivorship, garante o bem-estar pós-tratamento e vem sendo cada vez mais estudado, valorizado e disseminado, inclusive em congressos médicos. O suporte multidisciplinar feito por meio da equipe médica, nutricionistas, enfermeiros e psicólogos é fundamental para reinserir a mulher em sua vida pessoal e profissional.
O estigma e o medo do câncer de mama são desafiadores, mas a informação de qualidade e o suporte podem mudar a perspectiva. A evolução nos tratamentos aumentou as chances de cura e melhorou a qualidade de vida após a doença. “Ter o diagnóstico de câncer de mama nunca é uma situação fácil. O desconhecimento e o medo, associados à imagem pré-concebida das mutilações e limitações que o tratamento dessa neoplasia envolve, assim como a finitude da vida, geralmente pautam a primeira consulta de uma paciente recém-diagnosticada”, reforça Cristiano.
Uma pesquisa revela que a maioria das mulheres se considera bem-informada sobre o câncer de mama, mas possui pouca compreensão sobre os tipos da doença e seus estágios. A empresa Gilead Sciences divulgou um estudo que destaca a falta de equidade na saúde, especialmente entre mulheres negras de classes C/D e com níveis mais baixos de escolaridade. O câncer de mama é uma das principais causas de morte entre as mulheres, tornando a informação e o diagnóstico precoce cruciais.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, cerca de 49% das mulheres reconhecem que têm conhecimento limitado ou insuficiente sobre a doença. Entre as mais jovens, com idades entre 25 e 29 anos, esse índice atinge 45%. Além disso, outras categorias que demonstraram enfrentar desafios na obtenção de informações adequadas foram pessoas das classes D/E (42%); as que possuem apenas o ensino fundamental (36%); e mulheres negras (35%).
Cristina, Eciliane, Wanessa e Rosa Maria vivem hoje uma nova filosofia de vida, seja ressignificando o lado profissional, produzindo um livro, cursando uma faculdade ou viajando o Brasil dentro de uma Doblô. Cada dedicação se tornou um refúgio de conexão e aprendizado, espalhando a mensagem de respeito ao próprio corpo e vivendo com gratidão.
Mudança de hábitos
Na trajetória de Cristina Roberto, 68 anos, cada detalhe assume uma importância única, uma peça fundamental no quebra-cabeça de sua jornada de superação após o diagnóstico de câncer de mama. Cada ação, cada escolha, cada passo tomado é um fragmento de sua história, composta com cuidado e determinação. “Quando eu recebi o diagnóstico, eu me disse assim: ‘agora, você é sua, cuide de você!’.”
Esta determinação a levou a uma busca incansável por conhecimento. E um livro se tornou seu guia: Dieta anticâncer, do médico e pesquisador francês David Servan-Schreiber. A obra não apenas delineou um protocolo de tratamento, mas também enfatizou a necessidade de assumir o controle da própria saúde.
“Fiquei procurando coisas de autocuidado. E teve algo que foi muito importante para mim, que é o livro de um médico que teve um câncer, conviveu com isso por 20 anos, fez um trabalho maravilhoso de pesquisa e de mudança de hábitos. Ele tinha um tumor superagressivo e conseguiu viver muitos anos bons, com exercícios, horário de dormir, para comer. E eu fui colocando isso na minha vida”, detalha.
Cristina admite que tinha uma vida muito estressada. Dona de um bufê, fazia vários eventos. “Era uma correria para lá e para cá. Eu não dormia e não comia direito. Respeitar o seu corpo, o horário de comer, de dormir e de acordar é fundamental. O ciclo circadiano é real e ele precisa ser respeitado, o nosso corpo tem um reloginho próprio.”
A alimentação se tornou um elemento crítico em sua busca pela cura. A eliminação do açúcar de sua dieta foi uma decisão marcante. Ela mergulhou nos princípios da medicina chinesa e Ayurveda, buscando equilíbrio e vitalidade por meio da comida.
Hoje, Cristina comanda seu próprio restaurante, o Cura Cozinha Orgânica. O novo trabalho permitiu encontrar alegria na interação com as pessoas, tornando um local de conexão, onde compartilha sua sabedoria e amor com aqueles que a visitam. Apesar dos desafios, aprecia a interação com clientes, e o restaurante a ajudou a lidar com preocupações de saúde e a sensação de envelhecimento, proporcionando-lhe gratidão pela oportunidade de viver essa experiência.
“Quando eu vejo o pau quebrando, eu entro e ajudo a servir e faço todas as coisas que é preciso. Tenho trabalhado bastante, às vezes é cansativo, porém me permitiu interagir mais com as pessoas e reacender minha vida social, então isso está sendo muito rico para mim.”
Respeitando o próprio corpo
Após o diagnóstico, Cristina buscou uma nutricionista e incorporou exercícios físicos à sua vida, fortalecendo corpo e mente. “Ela me deu algumas vitaminas, então isso me aprumou, porque o meu diagnóstico chegou no meio da pandemia, em 2021, e eu tinha tido outros problemas de saúde, uma diverticulite muito pesada, e estava muito debilitada fisicamente, então o primeiro caminho foi fortalecer meus músculos. Caminhadas diárias e a prática da meditação me tornaram mais forte, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Eu acho que isso é muito importante para enfrentar uma cirurgia e um tratamento.”
Além disso, encontrou apoio em óleos como o canabidiol (CBD) e derivados da cannabis, que proporcionaram serenidade e aceitação durante sua jornada e desempenharam um papel surpreendente, oferecendo uma sensação de paz e aceitação para enfrentar o câncer de maneira mais suave e suportável.
Cuidando do coração
É essencial lembrar que a vitória contra essa doença não marca o fim da jornada. Para milhares de mulheres, após a fase do tratamento, inicia-se uma nova batalha, muitas vezes negligenciada: a proteção do coração. Com base na estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), de 73.610 novos casos de câncer de mama no Brasil em 2023, o Outubro Rosa traz à tona não apenas a importância da detecção precoce, mas também a necessidade de entender os desafios que surgem após a vitória na luta contra o câncer.
Uma pesquisa conduzida pelo Journal of Cancer revelou que mulheres sobreviventes do câncer de mama enfrentam um risco significativamente maior de desenvolver doenças cardiovasculares. A cardiologista Edna Marques, eletrofisiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor), alerta para os perigos potenciais que podem surgir durante e após o tratamento, relacionados a medicamentos e terapias específicas, como os inibidores de aromatase.
É fundamental que essas mulheres compreendam a importância do acompanhamento cardiológico e a identificação precoce de sintomas que podem indicar problemas cardiovasculares. Muitas vezes, os sintomas de infarto nas mulheres são diferentes e subestimados, o que destaca a necessidade de educação sobre a saúde cardíaca.
Edna Marques também destaca fatores de risco, como hipertensão, tabagismo, obesidade e depressão, que podem agravar essas condições. Dietas equilibradas e atividades físicas desempenham um papel crucial na prevenção de doenças cardíacas e câncer.