ES: O “sim” de seis famílias capixabas permitiu que o mês de janeiro fosse de renascimento no Espírito Santo e em outros estados brasileiros. Diante da permissão de familiares, diversas pessoas que aguardavam na fila para o transplante de órgãos tiveram uma segunda chance de viver.
Na manhã desta segunda-feira (27), mais um paciente que esperava por um coração foi contemplado com o órgão doado. Este foi o segundo coração transplantado no Estado em 2020. Já no último sábado (25), o “sim” de outra família permitiu o transplante de um fígado e dois rins para pacientes que aguardavam na fila.
Um levantamento realizado pela Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES) mostra que entre o dia 1º e o dia 27 de janeiro, o Espírito Santo realizou a captação de 26 órgãos (12 rins, seis fígados, seis córneas e dois corações). Desse total, seis órgãos (quatro rins e dois fígados) foram encaminhados para São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal, por não haver receptores compatíveis no Estado. Os dados apontam que no ano passado, no mesmo período, não houve captação nem transplantes de órgãos no Espírito Santo.
Este ano, as principais causas de óbito de doadores foram traumatismo crânio encefálico (TCE) e acidente vascular cerebral (AVC), na faixa etária entre 22 e 55 anos de idade.
De acordo com a coordenadora da CET-ES, Maria Machado, as famílias autorizaram as doações, entre o último sábado e esta segunda-feira, após a confirmação da morte encefálica dos pacientes, ou seja, quando há completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. “A solidariedade das famílias doadoras proporcionou um novo recomeço para os receptores que aguardavam, em estado grave, por um transplante de fígado e de coração”, disse.
Maria Machado explicou ainda que o diagnóstico de morte encefálica é seguro, realizado por uma equipe médica especificamente capacitada, por meio de exames de imagem, exames clínicos e exames laboratoriais. Ainda de acordo com a coordenadora, os protocolos de morte encefálica são iniciados com no mínimo seis horas de internação.
Entre os pacientes que receberam uma segunda chance está um homem de Vitória, que passou pelo transplante de fígado. A cirurgia aconteceu na manhã do último sábado em um hospital particular da Grande Vitória.
“Depois de muito tempo de espera por um órgão na fila de transplante, você passa a entender a importância da conscientização da população sobre isso. É preciso entender como funciona essa engrenagem do Sistema Nacional de Transplante. Penso que no Brasil é preciso trabalhar esse tema nas escolas, porque não basta ser doador, é preciso dialogar com a família. Esse tema é muito complexo e é preciso, no momento da dor, exercitar a generosidade. É com um sentimento de gratidão profunda a todos que eu minha família estamos vivendo nesse momento. Rodeados de incertezas, eis que somos contemplados com essa bênção de receber um órgão, sendo amparados por uma rede de pessoas que se uniram num mesmo propósito. Agradecida a todos médicos, enfermeiros e principalmente a Deus”, disse a esposa do transplantado. (Secom-ES)
Fila de espera no Espírito Santo
Nesta segunda-feira (27), na fila espera pela doação de órgãos para o transplante no Espírito Santo estão 936 pessoas para rim, 285 para córnea, 30 para fígado e seis para coração.
Recusa familiar
A coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo, Maria Machado, comentou que o índice de recusa familiar no Estado é o principal empecilho ao avanço dos transplantes. No entanto, ela destacou que as famílias estão se conscientizando sobre a importância da doação de órgãos e ressaltou que, neste primeiro mês do ano, o número de negativas diminuiu em relação ao mesmo período de 2019.
Em 2019, foram realizadas nove entrevistas familiares, mesmo quantitativo de entrevistas realizadas este ano. Desse quantitativo, sete famílias negaram a doação no ano passado. Esse ano, o número de negativas caiu para três famílias.
“É importante inserir o tema nas discussões em família, para que o assunto seja conversado abertamente entre as pessoas e que seja manifestado aos familiares o desejo de ser um doador”, explicou a coordenadora.
Como ser doador de órgãos
Todas as pessoas podem ser doadoras de órgãos. Para isso, basta ter boas condições clínicas de saúde. No Brasil, a legislação não obriga que se realize uma declaração documental ou insira em documentos de identidade a informação de que se deseja ser doador de órgãos. Basta conversar com seus familiares e informá-los sobre o desejo de ser doador.
“Por isso é importante que as pessoas conversem em casa sobre seu desejo e assim, mesmo em um momento de dor, a família opta pela doação. Um doador pode salvar até sete vidas. Cada minuto é essencial na vida das pessoas que aguardam por um transplante, por isso comunique o seu desejo de ser um doador de órgãos”, destacou Maria Machado.
Sistema de doação de órgãos no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. Atualmente, cerca de 95% dos procedimentos realizados em todo o País são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso significa que, diferentemente de qualquer outra terapia médica, o transplante só ocorre com a doação.
O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico regulamentado por lei, no qual um órgão ou tecido doente é substituído por outro saudável, que tem por objetivo melhorar a qualidade de vida. Para isso, é preciso que haja doadores – vivos ou mortos. O transplante é um tratamento efetivo para muitas doenças e, eventualmente, se torna a única opção terapêutica.
Serviços habilitados para realizar transplantes no Espírito Santo
– Hospital Meridional: coração, fígado e rins;
– Hospital Evangélico de Vila Velha: coração, rim e córnea;
– Hospital Santa Rita: medula autólogo;
– Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam): córnea;
– Clinicas oftalmológicas credenciadas para transplantes privados.
Já os bancos de olhos que realizam a captação de córneas estão localizados no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), que realiza a captação de córneas em Vitória, e no Hospital Evangélico de Vila Velha, que faz a captação de córneas nos demais municípios do Espírito Santo.