Homilia de Dom Paulo Bosi Dal´Bó – 16 de abril de 2025
Saúdo com alegria e encanto ao Excelentíssimo Dom Aldo, Reverendíssimos e amados Presbíteros, Diácono, Religiosos e Religiosas, Seminaristas, representantes das 27 paróquias e do Setor Missionário Santa Teresinha do Menino Jesus, autoridades constituídas ou representadas e todo povo santo de Deus. Minha saudação fraterna também aos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e aos queridos ouvintes da Rádio Kairós (a rádio da família) e demais meios de comunicação social.
Com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor deu-se início à Semana Santa, a grande semana. A liturgia de hoje, da bênção dos Santos Óleos e da renovação das promessas sacerdotais é regada com o espírito da Semana Santa. Conforme já mencionei no ano anterior, por necessidade pastoral a nossa Diocese celebra nesta terça-feira (15/04/25), mas várias Dioceses celebram na Quinta-feira Santa pela manhã.
Amados irmãos e irmãs, nos últimos meses acompanhamos de perto a enfermidade de Dom Aldo Gerna. Quantas orações e solidariedade, quanto aprendizado durante sua enfermidade! Hoje, rendemos graças por sua recuperação e por cada gesto de amor e solidariedade. Obrigado a todos que de uma forma direta ou indiretamente fizeram e fazem parte da grande virtude do cuidado, regada de amor e oração. Obrigado Dom Aldo pela vida e pela presença.
Nos últimos dias a enfermidade do Papa Francisco chamou a atenção do mundo inteiro. Sua humildade, despojamento, sua figura frágil, silenciosa, nos remete à entrada de Jesus em Jerusalém. Com seu semblante abatido e com suas dificuldades físicas tão visíveis, ele nos leva a refletir: de onde vem tanta força? Mesmo na fraqueza da enfermidade ele nos ensina a pensar positivo e encarar a doença como oportunidade.
O Papa Francisco tem afirmado que a doença pode ser uma oportunidade para aprender a amar e a ser solidário e que Deus está sempre presente. O Papa vê a doença como oportunidade de amor. Apresento algumas de suas frases:
“A doença pode ser um dom de comunhão, que nos permite experimentar a bondade de Deus; A dor nos fala da nossa capacidade de amar e de nos deixar amar; A doença ensina-nos a viver a solidariedade, a compaixão e a ternura de Deus; A doença pode ser uma escola, para aprender a amar e a deixarmo-nos amar, sem exigir nem recusar; A doença pode ser uma oportunidade para renovar e fortalecer a fé; A doença e a fragilidade podem tornar mais claras as absurdas guerras; A doença pode ser um momento de provação, em que Deus não nos deixa sozinhos; A doença pode ser uma oportunidade para aprender a ser humilde, agradecido e confiante; O doente é sempre mais importante do que a sua doença; Nenhuma vida deve ser descartada” (Cf. Papa Francisco).
– A enfermidade do Papa Francisco, deve nos levar a refletir como sociedade e como Igreja e assumir as doenças que nos atingem no momento. Enquanto muitos rezam pela vida, outros rezam pela morte. Vivemos numa sociedade com sinais claros de diversas enfermidades, além das físicas, também nos diversos setores: da saúde, educação, cenário político, segurança pública, meio ambiente, poluição virtual crônica, etc.
Aprender com as enfermidades que não somos super-heróis, ter a humildade de reconhecer as nossas fragilidades e não termos vergonha ou medo de dizer que somos frágeis. Observem o que o santo Padre diz: “rezem por mim” … “Queridos irmãos e irmãs doentes, neste momento da minha vida, estou a partilhar muito: a experiência da enfermidade, de me sentir frágil, de depender dos outros em tantas coisas, de precisar de apoio”.
E acrescentou: “Nem sempre é fácil, mas é uma escola na qual aprendemos todos os dias a amar e a deixarmo-nos amar, sem exigir nem recusar, sem lamentar nem desesperar…“O quarto do hospital e a cama da enfermidade podem ser lugares para ouvir a voz do Senhor”…“A doença é uma das provas mais difíceis e duras da vida, durante a qual tocamos com a mão o quanto somos frágeis”…“Não afastemos da nossa vida aqueles que estão fragilizados… façamos da enfermidade uma oportunidade para crescer juntos, para cultivar a esperança graças ao amor que, primeiramente, Deus derramou nos nossos corações e que, independentemente de tudo, é o que permanece para sempre”.
Na doença, Deus não nos deixa sozinhos… O Papa Francisco identifica a nossa enfermidade com a dor de Cristo. “Em Cristo também o sofrimento se transforma em amor e o fim das coisas deste mundo se torna esperança de ressurreição e salvação”.
Ao entrar na Basílica de São Pedro, com sua figura frágil, silenciosa, o Papa Francisco nos remete à entrada de Jesus em Jerusalém, humilde, montado num jumentinho. Esta identificação com a vulnerabilidade humana ressoa profundamente com a forma como Jesus entrou em Jerusalém, desafiando as noções convencionais de poder e grandeza. Esta cena provoca em nós um profundo exame de consciência.
Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus, no espírito da Campanha da Fraternidade que traz como tema: FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL e do ANO JUBILAR, que traz como tema: PEREGRINOS DE ESPERANÇA, reconhecendo que a esperança não decepciona e que “o Espírito Santo está na origem do nosso ministério”, apresento alguns pontos para rezarmos e refletirmos em nossa vida pessoal e também no exercício do nosso ministério.
Independente das nossas enfermidades serem físicas, psíquicas, emocionais ou espirituais, as palavras do Santo Padre devem ressoar em nós como oportunidade de crescimento, conversão, mudança de atitudes e desejo de caminhar juntos, evitando os ataques, pois não sabemos o passo seguinte de nossa trajetória humana, enquanto peregrinamos nesta terra. A vida é uma linha frágil, onde caminhamos sem saber o que nos reserva o passo seguinte. Brigamos por quê? Falamos mal do outro por que e para quê? Disputamos lugares de destaques, status, prestígios ou forçamos aplausos, por quê? Por que discutimos ou brigamos por motivos tão pequenos? Por que criamos leis próprias, às vezes fora da comunhão ou da orientação da Igreja como necessidade de marcar o nosso lugar? Lembrem-se: desta vida não levaremos nada, levaremos apenas aquilo que fizermos na resiliência, no respeito e no amor.
É preciso redescobrir os valores que realmente importa em nosso ministério. Perdemos muita energia com picuinhas ou coisas de pouca importância, rebatendo mensagens virtuais, resolvendo briguinhas de comunidades ou desconforto entre nós: isso pode ou não pode etc. Isso nos enfraquece e nos faz jogar fora um verdadeiro tesouro escondido em cada um de nós. Temos potencial para trabalhar em 220 Watts de potência, mas em muitas das vezes preferimos funcionar em 110 Watts ou gastar energia com coisas pequenas. Por isso, faço um clamor a todos, para injetarmos energia naquilo que de fato vale a pena.
Amados presbíteros e todo povo santo de Deus é importante destacar que ataques não sana ou ameniza os conflitos, pelo contrário, aumenta. Amado povo santo de Deus caminhe com o bispo e com os presbíteros, por isso, vos peço, não alimentem e não divulguem ataques e nem conflitos nas redes sociais. Ao receber mensagens duvidosas ou que ferem a ética, moral e que poderá machucar ou destruir a vida de alguém, não repassem e nem divulguem, pelo contrário, delete-as. Somos humanos, não vamos acertar sempre. O verdadeiro cristão católico participa e fala de dentro. O diálogo sempre é o melhor caminho.
Em tempos de tantos embates, enfrentamentos e crises nas relações interpessoais é importante redescobrir a humildade, simplicidade e mansidão do Bom Pastor. Isso nos fortalece e nos faz caminhar juntos. Por que dividir, se podemos somar? É preferível errarmos juntos e em comunhão, do que tentar acertar sozinho. Lembrem-se: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído” (Mt 12,25).
– Baseado no Pontifical Romano, é comum ouvirmos no dia da nossa Ordenação presbiteral: “Ao exercer com amor o ministério de Cristo, unido e atento ao Bispo, procure sempre, congregar os fiéis numa só família, num espírito de comunhão e unidade, a fim de poder conduzi-los a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Trazei sempre para dentro do seu coração, o exemplo do Bom Pastor que veio para servir e não para ser servido. Veio buscar e salvar o que estava perdido”. Portanto, amados presbíteros, na humildade do Bom Pastor, junto com o bispo, caminhemos com o povo santo de Deus, procurando fazer tudo por amor e com alegria, sendo fiel no que nos compete, o sagrado múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso Mestre, que ama incondicionalmente.
OUTRO PONTO QUE TRAGO PARA REZARMOS: NÃO DESVIAR DO CAMINHO.
Amados presbíteros, em nossa adolescência e juventude fomos marcados por uma diversidade de caminhos. Aos poucos, fomos amadurecendo-nos enquanto cristãos e chegamos à conclusão de que entre tantos caminhos e possibilidades, deveríamos encontrar o único caminho: Jesus Cristo. Entre tantas vozes que o mundo oferecia e oferece, tivemos que exercitar a paciência, a resiliência e num processo bonito de discernimento identificar entre tantas vozes a única voz. A voz do Cristo Bom Pastor. De livre e espontânea vontade tomamos a decisão de segui-lo mais de perto nos consagrando a Ele. O nosso sim culminou na Ordenação Presbiteral, selando assim a nossa aliança de amor e fidelidade com Jesus. Isso implica missão e compromisso com Ele e com sua Igreja em todos os momentos e situações em nossa trajetória vocacional. Fomos e somos vocacionados de Jesus, chamados e enviados por amor, para amar e servir. Hoje, na era do vazio, numa sociedade do cansaço, líquida e conectada ao mesmo tempo, com síndrome de Burnout, (síndrome do esgotamento profissional ou vocacional. Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico resultante de estresse crônico) e tantas outras síndromes, o grande desafio é não nos desviar e nem nos perder no caminho, ou então, não perder o Caminho, a Verdade e a Vida, que é o Cristo Senhor.
A Igreja diz que o caminho no seguimento a Jesus não é um caminho tão fácil de construir ou seguir, é um caminho de exigências, que implica renúncias e dificuldades, mas a Igreja Católica também diz que o caminho de Cristo é uma catequese do Espírito Santo, é um caminho regado de amor, alegria, graça, bem-aventuranças, perdão, virtudes humanas e virtudes cristãs. A meta é a comunhão com Deus e entre as pessoas. Se nos identificamos com O CAMINHO que é Jesus, o que a Bíblia diz sobre o caminho?
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14,6), “Entre pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição” (Mateus 7:13); “Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos” (Isaías 55:8); “Ensina-me o teu caminho, Senhor” (Salmos 25:4).
À luz da Palavra de Deus podemos nos perguntar: O que o caminho de Cristo significa? Significa confiar em Jesus Cristo como fonte de paz e verdade; Buscar unidade e cooperação; Viver valores através de ações de amor e serviço ao próximo; Construir um mundo mais justo, inclusivo, compassivo, pautado na humildade, no amor e no serviço…
Nos momentos de dúvidas em nossa trajetória vocacional, talvez, deveríamos retomar a pergunta de Tomé: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5), porém é necessário estarmos abertos à declaração central de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai a Pai senão por mim!” (Jo 14,6). Com esta afirmação, também nós, devemos fazer a nossa profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). A nossa missão de comunicadores do Evangelho é e sempre será: voltar para o CAMINHO. Experimentar Jesus, enquanto Caminho, Verdade e Vida, é experimentar o Pai, é entrar em intimidade com o próprio Pai: “Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim?” (Jo 14,10). Amados presbíteros, por maior que seja o número de caminhos que se despontam à nossa frente, busquemos sempre fazer a escolha pelo melhor Caminho, ou se por algum momento pensarmos em nos desviar, voltemos ao verdadeiro Caminho.
Jesus é o Caminho que conduz ao Pai. Ele é a Verdade que liberta. Caminho e Verdade que são testemunhadas, por Jesus, no amor e na fidelidade até o fim. Ele é o Caminho da salvação, que oferece vida plena. Quem segue os passos de Jesus, encontra o caminho, a verdade e a vida em sua Pessoa e a oportunidade da experiência de comunhão com o Pai. “O caminho de Cristo “conduz à vida”, um caminho contrário “leva à perdição” (CIC, 1696).
Mantemo-nos firmes no caminho e deixemo-nos guiar pelo espírito de Jesus, que nos levam a vida.“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor.” (Lucas 4,16-21).
Portanto, amados presbíteros, nesta Liturgia vamos renovar as nossas promessas sacerdotais, ao renová-las, procuremos voltar ao primeiro amor de nossa vocação, permanecer no Caminho, nos fortalecer e caminharmos juntos, pois juntos somos mais fortes. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado!