JAGUARÉ: Tempos inimagináveis… fronteiras fechadas em plena globalização, escolas fechadas quando se sabe da importância da formação acadêmica, e igrejas sem poderem receber seus fiéis e grande parte da população isolada dentro de seus lares … tempos inimagináveis criado pela Pandemia do Novo Corona vírus – Covid-19. Mas é nestes momentos que deve rebrotar o melhor do ser humano em um momento de superação. É o que nos conta Pe. Éder Mataveli Vargas, Pároco da Paróquia São Cipriano – Jaguaré-ES em uma entrevista ao Jornal O Conilon.
O Pároco nos conta como é a experiência nestes ‘tempos inimagináveis’ e como este pode se transformar do desespero do isolamento em um resgate da Igreja Doméstica, dos momentos de diálogo e de afeto em família. Acompanhe:
– Como está sendo para o senhor, como sacerdote, este isolamento, sem o contato com os fiéis, tão comum no costume cristão?
– Bom dia! Todos nós fomos afetados: padres e fiéis; os que são ou não da Igreja Católica. Como no meu caso, todos os que lidam diretamente com a espiritualidade e buscaram, neste momento, o isolamento social não realizando os cultos religiosos estão sentido a mesma falta. Digo “todos os outros” porque sei que muitas Igrejas Cristãs e outras Religiões também assumiram este compromisso do distanciamento social, cuidando das vidas dos fiéis. Assim, para mim como Padre acostumado estar sempre nas Comunidades é muito diferente e desafiante. Aprender a se reinventar neste tempo dentro da sua própria casa. Claro, não tem faltado a oração e o que fazer, mas o ritmo de sair para ir às Comunidades para celebrar, partilhar a vida, rir, ouvir os desafios, propor caminhos, realizar os Sacramentos… neste período não está acontecendo. A princípio, confesso, pensei que em 20 dias tudo iria passar. Mas depois, as coisas foram ficando mais sérias e próximas de mim e, claro, dos munícipes, então percebi que este “novo normal” exigirá de todos, e eu como padre não estou fora destas novas exigências. Enfim, não é bom ficar apenas em casa, pois o costume de estar com o povo é muito gratificante, fortalece nossa vocação. Por outro lado, estou entendendo que ficar em casa, também é uma maneira de cuidar, pois a Igreja cuida de várias maneiras, esta é ação do Espírito: mesmo não vendo, estamos sentindo a presença e o cuidado.
– Como é celebrar sem olhar nos olhos da comunidade?
– Muito diferente! O calor humano tem suas peculiaridades que as redes sociais não conseguem traduzir de maneira tão eficaz, embora sejam valorosos instrumentos de comunicação e, porque não dizer, proximidade. Mas tenho que dizer que estou me acostumando. Eu tenho um pouco de dificuldade com câmeras, rádio etc… Tenho medo de falar bobeira (hahaha…) ou de não me expressar como realmente deveria naquele determinado assunto ou celebração. Daí o cuidado redobrado! Mas tem sido um desafio bom estar diante das lentes das redes sociais. Contudo, reitero que estar no calor humano da Comunidade para mim é mais significativo e espero logo retomar esta experiência.
– Tem sido comum a reclamação das pessoas de sentirem a falta do celebrar em comunidade e do comungar fisicamente?
– Sim. Para aqueles que têm o costume, não só por tradição, mas porque realmente fizeram uma experiência significativa de ser Igreja, é muito difícil não estar na Comunidade. Este lugar acaba sendo um espaço de comunhão Sacramental, humano e espiritual. As pessoas interagem, riem e choram juntas; ouve a Palavra de Deus e buscam vivê-la em comunidade e recebem esta força para continuar sua missão dia a dia. Sem contar que para aqueles que recebem o Corpo e Sangue de Cristo Eucarísticos sentem uma falta ainda maior. Por outro lado, tenho dito para aqueles que me abordam que esta é uma oportunidade de viverem outras dinâmicas, realidades e modos de ser a Igreja, bem como estar em comunhão e unidos com aqueles que por vários motivos não vão à Igreja ou, quando vão, não participam da Comunhão Eucarística, fazendo sua Comunhão Espiritual.
– Como vê a experiência das pessoas em casa? tem aumentado a espiritualidade e momentos em família?
– A casa é o primeiro espaço da comunhão, antes mesmo da Comunidade. Se isso estava esquecido por alguns, agora é momento de lembrar e viver. A Igreja nunca esquece que as primeiras virtudes espirituais, culturais, sociais e outras começam na família. Lembro-me que em várias homilias e em atividades nas Comunidades, como por exemplo, a Semana da Família ou dia da Sagrada Família, este assunto foi sempre reforçado. É hora de viver, ainda mais, nossa vida de “Igreja Doméstica”. Neste caso, para mim, é uma oportunidade de retomar alguns valores e atitudes que, por causa do excesso de trabalho ou experiências fora da casa, estavam se perdendo ou já foram esquecidos. Já ouvi testemunhos bem significativos como: “o excesso de trabalho nos tirava de casa e o nosso filho não ficava com a gente. Agora, estamos parando dentro de casa. O trabalho diminuiu e a renda também, mas reaprendemos a olhar um para o outro e a rezar”; outra pessoa disse: “foi nosso filho que disse que precisamos rezar em família. E agora estamos fazendo isso todos os dias”. Estes e outros depoimentos me fazem acreditar ainda mais na família e na presença de Deus no lar. Se buscarem viver a espiritualidade dentro de casa, também entenderão o que é ser Igreja de Cristo. Esta por sua vez, dará elementos Sacramentais e espirituais para fortalecer a missão da família na casa e no mundo.
Também, quero lembrar uma coisa que não é tão boa: neste período, por causa de situações econômicas e sociais, as pessoas estão dentro de suas casas, o que é bom, mas os conflitos violentos podem surgir; os abusos de crianças e adolescentes aumentarem e a agressão à mulher ganhar força. Esta e outras situações são males terríveis que assombram nossas famílias! Eu não tenho ouvido relatos como estes que descrevi, por isso continuo rezando para que Deus proteja nossas famílias e que elas vivam o amor e a unidade dentro de seus lares. Contudo, é preciso atenção para que os agredidos, caso isto venha a acontecer, tenham força para fazer a denúncia aos órgãos competentes e encontrem na Comunidade a acolhida e o cuidado para superarem estes sofrimentos.
– Como esperar o retorno? Um povo sedento da palavra de deus, querendo rezar em comunidade e com a fé fortalecida, ou uma procura menor?
– Eu espero o retorno com muita esperança e alegria! Penso que será muito bom. Mas calma lá! Vamos ter que nos adaptar em algumas ou muitas coisas. Não dá para ser do mesmo jeito. Tem gente que quer voltar para ir à Igreja participar e depois continuar sendo da mesma forma. Não! O retorno tem que ser diferente. Precisamos retomar nossa participação mais humanos e fiéis a Jesus Cristo e dispostos a viver o seu Reino. Eu acredito que muitos que experimentaram um encontro verdadeiro com Jesus, estão ansiosos para este encontro em Comunidade. Outros terão que retomar, aos poucos, as práticas que vinham fazendo. Alguns terão realmente que serem ‘buscados’ pela missão e acolhimento. Sinto que a Igreja terá que se adaptar às novas realidades e viver a missão de maneira ainda mais diversa.
– Como a Paróquia de São Cipriano tem enfrentado esta situação inimaginável?
– Bom! No âmbito da espiritualidade estamos seguindo as orientações da Diocese de “ficar em casa”, presidindo as Missas pelas redes sociais (página do Facebook da Paróquia São Cipriano e o auxílio da Rádio Ativa FM de Jaguaré); enviando os subsídios litúrgicos que a Diocese tem mandado para enviar às famílias pelas redes sociais e outras atividades.
Na administração temos retomado os atendimentos pastorais de maneira cuidadosa com máscaras e álcool 70 e outras medidas; os colaboradores da Paróquia tiverem carga horária reduzida no trabalho; também os padres foram convidados a colaborar com parte do seu pró-labore para que a Paróquia não entre em dificuldades financeiras e outras atividades.
Para a dimensão social e auxílio das famílias temos fortalecido as cestas básicas em parcerias com grupos e instituições, motivação da ‘Prateleira solidária’, confecção de máscaras, recolhimento de materiais de higiene e outras. Assim, quero desde já agradecer todas as Pastorais, Movimentos e Serviços da Paróquia que de maneira ou de outra contribuíram nestas atividades.
Aos Coordenadores e Conselhos das Comunidades que têm nos ajudado no cuidado com a Igreja, tanto com o templo no gesto simples de abrir e fechar aos domingos para a oração pessoal dos fiéis, quanto com as pessoas que lá participam. Os dizimistas fiéis que ajudam a Igreja a continuar com seu serviço de evangelização e manutenção do templo e paróquia ao farem sua oferta livre e comprometida. Os Ministros da Eucaristia que nos ajudaram a levar conforto espiritual aos enfermos e idosos em uma ação em parceria com a Secretaria de Saúde para a distribuição da Eucaristia. Enfim, todos os fiéis que estão unidos em oração e participam das ações concretas para cuidar da vida de todos.