ES: A adoção de tecnologias e do acesso às políticas públicas nos diferentes territórios rurais e pesqueiros no Estado marcou o mês de maio no agro capixaba com a realização do Seminário de Acompanhamento e Avaliação das pesquisas do Banco de Projetos da Secretaria de Agricultura (Seag) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
O seminário faz parte do INOVAGRO – Inovabilidade da Agricultura do Espírito Santo, que reúne um conjunto de projetos de pesquisa com o objetivo de avaliação dos processos e impactos gerados pelos avanços tecnológicos e ações do Governo do Estado na área rural e setor de pesca do Espírito Santo.
O seminário realizado de forma virtual, teve a apresentação final de 35 projetos concluídos no 1º Ciclo, iniciado em janeiro de 2021, e executados pelos pesquisadores e extensionistas do Sistema Estadual da Agricultura (Seag/Incaper e Idaf).
Nesta etapa, foram investidos aproximadamente R$ 10 milhões, pelo Governo do Estado, por meio da Seag. Os projetos abordaram 15 temas relevantes para o desenvolvimento sustentável do meio rural e da pesca capixabas: Agroecologia e produção orgânica; Agroindústria e empreendedorismo rural; Aquicultura e pesca; Cafeicultura; Climatologia e estratégias de convivência Com eventos extremos; Comercialização e mercados; Comunicação para o desenvolvimento rural; Defesa sanitária e inspeção (animal e vegetal); Desenvolvimento socioeconômico de populações do meio rural e da pesca; Fruticultura; Pecuária; Pipericultura (Pimenta-do-reino); Produtos com qualidade vinculada à origem (indicações geográficas, marcas coletivas ou produtos tradicionais, regionais ou artesanais); Recursos naturais, controle florestal e licenciamento ambiental de atividades agropecuárias; Silvicultura.
No evento também foram conhecidos os resultados parciais de outros 22 projetos do 3º Ciclo, iniciado em dezembro de 2022 com previsão de conclusão em agosto de 2025, com investimentos de R$ 6,5 milhões.
O Governo do Estado busca com estes estudos a construção de um cenários que permita conhecer os fatores de mudança e seus impactos nos territórios, assim como subsidiar a melhoria de políticas de desenvolvimento, mais eficientes e conectadas com a realidade de cada área. A formação dessa rede de pesquisa na agropecuária é essencial para as potencialidades no setor capixaba. Os resultados obtidos pelas pesquisas podem agregar valor aos produtos do agro, desenvolver boas políticas sociais, tendo uma das ações mais importantes que é manter jovens no setor, e que de certa forma, impacta no desenvolvimento do Espírito Santo.
Os resultados dos projetos apresentados no seminário foram avaliados pelos doutores Vinícius Teixeira Andrade, Madelaine Viezon, Nilton José Sousa e Alex Alves dos Santos.
Na abertura do evento, o diretor geral da Fapes, Rodrigo Varejão, falou sobre o a importância de aplicação dos resultados dos estudos e do fortalecimento da parceria com a Seag: “O mais importante é a gente focar aquelas entregas principais que vão impactar no setor e tenha boas perspectivas e potencial para assumir um outro protagonismo. São projetos que podem participar de uma transferência tecnológica e ser incorporado na produção de novos processos ou entrar no trilho da inovação. Neste momento de avaliação é fundamental mapear e identificar projetos que atingiram determinada maturidade e que podem receber uma atenção especial. E para projeto em andamento é sempre bom fazermos um balanço e uma gestão de riscos, ou seja, saber se tem algo que está dificultando o seu andamento e requer algum tipo de intervenção. E até mesmo identificar as condições atuais vão favorecer o alcance dos resultados planejados lá atrás. A gente quer conectar e dar mais robustez nessa parceria com a Seag, enfim, nosso objetivo aqui é potencializar a ação, a parceria e também o fomento que está sendo realizado”, declarou Rodrigo Varejão.
O secretário de Estado da Agricultura, Ênio Bergoli, enalteceu a parceria com a Fapes, bem como a sua ampliação, e foco nos gargalos tecnológicos que o setor capixaba enfrenta: “nós pretendemos cada vez mais ter essa prática de monitoramento e avaliação e para isso já colocamos recursos no projeto de monitoramento. São muitos recursos colocados, ao longo desses últimos anos, com mais de R$ 18 milhões investidos. Para nós também é um observatório daquilo em que a gente vai continuar apostando para o desenvolvimento dos projetos com resultados satisfatórios, digo sobre o desenvolvimento para transferência de tecnologia. A Seag quer ampliar essas parcerias com a Fapes focadas na pesquisa aplicada e no gargalo do desenvolvimento, especialmente vinculado ao nosso planejamento de longo prazo. Nosso trabalho será com um olhar mais focado no nosso planejamento e em pesquisa aplicada em relação aos gargalos tecnológicos que nós temos nas 30 principais cadeias produtivas que estudamos no Plano de Desenvolvimento da Agricultura(PDA)”, explicou o secretário Ênio Bergoli.
Projetos concluídos e em execução
O seminário completo está na página oficial da Fapes no youtube. Assista a apresentação do projetos concluídos e em execução clicando no link https://www.youtube.com/live/Y7xO6ggRRFU?si=I5XGj58l1qYbKPiL
Teste de rápido para diagnosticar raiva
Uma técnica inovadora para diagnosticar o vírus da raiva em tempo real é a grande aposta de uma pesquisa desenvolvida por uma equipe do Idaf. A raiva é uma encefalite viral que acomete os mamíferos, incluindo humanos. A importância do diagnóstico laboratorial rápido e eficaz para a saúde pública e pecuária do Espírito Santo levou o doutor em Ciência Animal, Luiz Fernando Pereira, a coordenar uma pesquisa que substitui o uso de camundongos por testes laboratoriais de RT-qPCR, uma técnica de biologia molecular.
O tempo mínimo para diagnóstico positivo foi reduzido para um dia, quando comparado ao isolamento viral em camundongos, que leva nove dias, além de uma redução de 17,7% no custo do diagnóstico. São em média 9 dias, se a amostra for positiva, mas para as amostras negativas, demora 30 dias para finalizar o teste no camundongo. Durante os estudos, foram analisadas 316 amostras de cerebros de mamíferos, 121 positivas e 195 negativas, previamente diagnosticadas por imunofluorescência direta (IFD) e isolamento viral em camundongos.
Desde a década de 1960, o Espírito Santo realiza o diagnóstico da raiva no mesmo laboratório. Outras técnicas foram introduzidas, sempre mantendo a ação inicial de inoculação em camundongos. Em 1994, foi instituído o diagnóstico feito por Imunofluorescência Direta e Inoculação (IDI) em camundongos.
Vários problemas foram identificados ao longo dos anos, como: o conflito com o bem-estar animal, em que mais de 10 mil camundongos eram mortos todos os anos para uso na técnica; o alto custo para sua manutenção; o tempo para a obtenção do resultado em casos negativos, que chegava até 30 dias; e o grande volume de trabalho e resíduos gerados.
O coordenador da pesquisa, Luiz Fernando Pereira, considerou que os resultados obtidos trazem uma grande evolução no diagnóstico, no controle e no combate à raiva. “Com a implantação da técnica de PCR em tempo real, foi possível eliminar a utilização de camundongos para o diagnóstico da raiva; reduziu-se o custo com insumos e o tempo para a obtenção do resultado. Atualmente, o diagnóstico é feito por duas técnicas: a imunofluorescência direta (que é feita normalmente em 24h) e a PCR em tempo real, que normalmente é feita em até 7 dias. O tempo de 7 dias para a realização da PCR é por questões logísticas, mas se for um caso de urgência, o diagnóstico pode ser feito no mesmo dia. Enfim, o diagnóstico da raiva ficou mais rápido, mais sensível e mais barato”, esclareceu o Doutor Luiz Pereira.
Segurança na Suinocultura Comercial Capixaba
O projeto teve como ponto central a preocupação com a segurança da suinocultura comercial capixaba em relação aos riscos sanitários envolvidos na criação. A biosseguridade das granjas foi avaliada, entendendo-se por biosseguridade a capacidade de resposta da granja a um evento adverso (infecção), em que foram analisadas as medidas aplicadas para impedir a entrada e/ou disseminação de agentes infecciosos no plantel. O projeto foi coordenado pelo médico veterinário e fiscal Estadual Agropecuário, Agostinho Sergio Scofano.
Também foram realizados inquéritos sorológicos para doenças que afetam a suinocultura (na parte reprodutiva e no desenvolvimento dos suínos) e a saúde pública, como a toxoplasmose.
Foram avaliadas 55 granjas (72,4% das cadastradas no Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo – IDAF como comerciais).
Os benefícios incluíram a obtenção de informações epidemiológicas, já que não havia dados sobre a prevalência de toxoplasmose, doença de Aujeszky e influenza tipo A. As granjas foram classificadas em relação à biosseguridade instalada, o que é crucial para o trabalho de Defesa Sanitária do IDAF, destacando pontos fortes e fracos na suinocultura do Espírito Santo.
Fatores de risco para a infecção por Toxoplasma foram determinados nas granjas estudadas, permitindo que os suinocultores façam alterações estruturais e procedimentais para minimizar a chance de contaminação dos animais, melhorando a produtividade e produzindo uma carne mais segura para os consumidores. Isso reduz diretamente a possibilidade de infecção humana pela ingestão do parasito presente na
A equipe do projeto focou na biosseguridade em relação a três doenças: toxoplasmose, doença de Aujeszky e influenza tipo A. A toxoplasmose nos suínos é um problema reprodutivo, a doença de Aujeszky causa problemas reprodutivos e atraso no crescimento, enquanto a influenza afeta principalmente o desenvolvimento dos animais.
Mesmo não havendo uma legislação específica para cadastro de granjas suínas, como ocorre na avicultura comercial, a equipe classificou as granjas quanto à biosseguridade utilizando legislações que tratam de cadastro de granjas de reprodutores certificados e uma legislação de compartimentação da cadeia de produção suína. Constatou-se que a microrregião central serrana do Estado é a mais crítica em termos de biosseguridade, com granjas menores e mais antigas, vulneráveis à proteção.
Ações objetivas voltadas para reduzir a chance de infecção por bactérias ou vírus que comprometam a parte reprodutiva, garantindo boas condições de saúde para que os animais cresçam sem doenças, podem tornar a suinocultura mais rentável para o produtor rural.
A suinocultura capixaba enfrenta altos custos de produção e queda nos preços da carne de porco. Em 2021, foram levantadas informações em 55 granjas no Espírito Santo, estimando-se que dez já não têm mais suínos. Muitas granjas estavam encerrando suas atividades por questões financeiras. A equipe do IDAF concluiu que, para avançar, é necessário investimento em melhorias, mas os suinocultores estão atualmente focados em se manter na produção.
Toxoplasmose
A toxoplasmose também representa um problema de saúde pública. Conforme explica o coordenador da pesquisa Agostinho Sergio Scofano: “A toxoplasmose é uma doença que infecta humanos e animais pela ingestão de cistos do parasita em alimentos contaminados ou pela ingestão de cistos em carnes. Ela pode causar problemas graves de visão e complicações para gestantes. Muitas pessoas se infectam, apresentam febre e inchaço nos gânglios linfáticos, mas não dão importância. O parasita pode atingir a retina, causando cicatrizes que comprometem a visão, sendo muito perigoso para gestantes, pela infecção transplacentária pode causar aborto ou problemas neurológicos no bebê”, alertou o médico veterinário Agostinho Scofano.
Impactos de tecnologias aplicadas na cafeicultura
Com o objetivo de demonstrar e apresentar boas práticas agrícolas de produção na cafeicultura de conilon, um projeto está sendo executado pela equipe da Regional Noroeste do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), com a implantação de 18 unidades de referência do café, utilizando tecnologias e inovações sustentáveis (conceito de Inovabilidade) nas propriedades cafeeiras da região.
O trabalho começou com um diagnóstico baseado em 36 indicadores de sustentabilidade, conforme o currículo mínimo de sustentabilidade do Incaper. Após o diagnóstico, foi elaborado um plano de manejo e adequações com uso de tecnologias e inovações para melhorar os índices de sustentabilidade. Esses resultados são apresentados aos agricultores da região por meio de metodologias de extensão rural, como dias de campo, dias especiais, demonstração de métodos, visitas e excursões técnicas.
Os resultados preliminares mostraram ganhos significativos no trabalho da Ater, devido ao suporte das unidades de referência em tecnologias, inovação e sustentabilidade. Uma das tecnologias utilizadas é o monitoramento das condições de tensão e umidade do solo, que estima a necessidade diária de água por meio da tensiometria (manejo de irrigação). Com o uso de um aplicativo para monitoramento em tempo real, os agricultores são informados com precisão sobre quando e quanto irrigar, evitando desperdício de água e energia elétrica e contribuindo para a gestão da propriedade cafeeira.
Outro ponto importante é a conservação do solo, utilizando matéria orgânica como cobertura morta e aproveitando resíduos do processo produtivo. A nutrição equilibrada da planta é monitorada com análise de solo e folha, permitindo a correção de pH e a elaboração de um plano de manejo de adubação equilibrada, ajustado conforme os teores dos elementos químicos na folha.
As outras nove unidades envolvem a implantação de cultivares de café conilon desenvolvidas pela pesquisa do Incaper. Nessas unidades, serão avaliados e apresentados aos agricultores o desenvolvimento e comportamento dessas cultivares em seus municípios e região. As mesmas boas práticas agrícolas de produção, conforme o currículo mínimo de sustentabilidade do Incaper, e as tecnologias e inovações utilizadas nas lavouras em produção são aplicadas.
O projeto foi coordenado pelo engenheiro agrônomo e mestre em Agricultura Tropical, Welington Braida Marré, que falou sobre aplicação dos resultados alcançados pela pesquisa realizada. “Isso permitirá a construção e adoção de técnicas focadas em sustentabilidade, enfrentando os desafios da cadeia produtiva. Além disso, possibilitará identificar e qualificar as tecnologias de maior impacto no processo, fornecendo suporte ao trabalho com um conjunto de informações e tecnologias empregadas na região. Isso permitirá a capacitação de agricultores e trabalhadores sobre o uso de boas práticas agrícolas, gestão de propriedades e aplicação das principais tecnologias disponíveis para agricultores familiares”, destacou Welington Marré.
Ele, que também é coordenador Regional Noroeste do Incaper, acrescentou que a demonstração e transferência dessas tecnologias visam contribuir significativamente para a implementação de boas práticas de produção nas propriedades cafeeiras do Estado, aumentando a visibilidade e competitividade do café capixaba, gerando renda e ocupação no meio rural e respeitando o meio ambiente.